Presa há 4 anos, ex-vereadora de Uberlândia, Pâmela Volp já soma mais de cinco décadas em penas por exploração sexual, tortura e lavagem de dinheiro

  • 08/11/2025
(Foto: Reprodução)
Pâmela Volp, ex-vereadora de Uberlândia CMU/Divulgação Por trás da imagem pública de ativismo em defesa dos direitos da população LGBT+, a ex-vereadora de Uberlândia, Pâmela Volp, escondia um dos esquemas criminosos mais complexos e duradouros já investigados na cidade, segundo o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Condenada a mais de 50 anos de prisão em processos da Operação Libertas, Volp foi presa há exatamente 4 anos, em 8 de novembro de 2021, apontada como líder de uma rede de exploração sexual que atuou por mais de três décadas, atingindo principalmente travestis e mulheres trans em situação de vulnerabilidade. Segundo a Promotoria de Justiça de Uberlândia, Volp comandava o esquema mesmo após ser eleita vereadora em 2016 pelo Partido Progressista (PP), com 1.841 votos. Ela foi a primeira mulher transexual a se eleger em Uberlândia e também a primeira parlamentar de Minas Gerais a utilizar o nome social no diploma de eleita. ✅ Clique aqui e siga o perfil do g1 Triângulo no WhatsApp O g1 entrou em contato com a defesa de Volp, representada pela advogada Fabiane Martins, para comentar as condenações e os detalhes dos processos citados na reportagem. Em nota, a defesa contestou a soma das penas informada pelo MPMG e esclareceu que a cliente só teve um dos processos concluído até o momento, justificando que não há pena definitiva a ser cumprida, tornando a ré uma "presa tecnicamente provisória". Saiba mais sobre a posição da defesa ao final da reportagem. Já o MP esclareceu que existem processos que a ré responde em liberdade, então as penas não foram unificadas, ou seja, no atestado de pena só constam os crimes com condenações em que há execução provisória da pena. Chefe de organização interestadual A Operação Libertas, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em agosto de 2021, revelou que Pâmela Volp comandava uma organização criminosa interestadual que mantinha controle sobre pontos de prostituição, impunha diárias abusivas, torturava as vítimas e promovia cirurgias clandestinas para colocação de próteses mamárias. Além disso, as denúncias apontam que a ex-parlamentar montou outro esquema paralelo, após ser presa pela força-tarefa, para cometer atos de violência, extorsões e fazer 'testes de orientação sexual' na ala LGBT+ da penitenciária, forçando presos a fazerem sexo entre si. Nesta reportagem especial, o g1 traz detalhes dos processos criminais que levaram à condenação da ex-vereadora Pâmela Volp. Ao longo das investigações, dezenas de vítimas foram ouvidas, revelando como o poder político e a influência social foram utilizados para perpetuar abusos e silenciar denúncias ao longo dos anos. Pâmela Volp foi eleita 1ª vereadora trans de Uberlândia em 2016 CMU/Divulgação Três décadas de crimes contra a população transexual O Ministério Público apontou que Pâmela chefiava a organização criminosa há mais de 30 anos. Em 2014, ela foi condenada pela Justiça Federal por tráfico internacional de pessoas e rufianismo. 🔎 Rufianismo é crime previsto no artigo 230 do Código Penal Brasileiro e ocorre quando alguém tira proveito financeiro da prostituição de outra pessoa, mesmo sem forçá-la a se prostituir. A lei prevê pena de 1 a 4 anos de reclusão, além de multa. Quatro anos depois ela foi absolvida em segunda instância pelo tráfico, mas condenada por favorecimento à prostituição. A Promotoria de Justiça de Uberlândia, através do Gaeco, começou a investigá-la e ouviu dezenas de vítimas a quem Pâmela chamava de 'filhas' e as acolhia em alojamentos em Uberlândia e Criciúma (SC). Conforme as denúncias, as vítimas exploradas sexualmente no esquema chefiado pela ex-vereadora relataram episódios de tortura, extorsão, ameaças e até procedimentos cirúrgicos clandestinos. O que dizem as denúncias As vítimas relataram que eram obrigadas a pagar diárias para atuar nos pontos de prostituição controlados por Pâmela Volp. Quem se recusava, era ameaçada, coagida e até torturada. Uma das mulheres contou que Pâmela a forçava a integrar uma espécie de gangue, com a missão de agredir e extorquir outras trabalhadoras que ocupavam os pontos sem pagar as taxas exigidas. Nos alojamentos, câmeras de monitoramento foram instaladas para vigiar as vítimas. Além disso, um caderno com registros detalhados de pagamentos e despesas de cada mulher foi apreendido. A denúncia ainda rendeu uma investigação nas esferas trabalhista e federal, por trabalho análogo à escravidão. Segundo o Ministério Público, também havia um esquema clandestino e superfaturado para a colocação de próteses de silicone. As vítimas eram induzidas a contribuir com uma espécie de poupança para realizar os procedimentos em clínicas ilegais. O caso revelou ainda a participação de médicos e práticas sem anestesia ou em pós-operatório inadequado. Conversas obtidas pela investigação mostram um dos médicos negociando um “pacote de próteses” com Pâmela, a quem ele chega a chamar de “sócia”. Os médicos envolvidos firmaram acordos de colaboração e não foram denunciados. Veja galeria de fotos durante as fases da operação Libertas. Operação Libertas; FOTOS Anos de medo, ameaças e poder Para lavar o dinheiro obtido com a exploração sexual e extorsões, Pâmela Volp investiu em carros de luxo, imóveis, joias e até na construção de um mausoléu de alto padrão para a família, no cemitério de Tupaciguara, cidade a 69 quilômetros de Uberlândia. As investigações indicam que Pâmela Volp movimentava mais de R$ 20 mil por mês em cartões e mantinha um padrão de vida elevado. Esse foi um dos argumentos usados pelo Gaeco para apontar que a maior parte da renda dela vinha de atividades criminosas. O valor do patrimônio de Pâmela Volp não consta no processo, mas o g1 apurou junto aos investigadores da Operação Libertas que é de aproximadamente R$ 4 milhões. O dinheiro também era usado para impor medo às vítimas. Nos depoimentos prestados ao MP e à Justiça, elas relataram o clima de medo constante que viviam sob o comando de Pâmela Volp. "No último julgamento dela do tráfico internacional, ela arrotou para todo mundo que tinha mandado uma maleta de dinheiro para Brasília, que nunca ia ser condenada, que nunca ia ser presa, que nunca ia acontecer nada [...] para gente tipo ter medo, que ela tinha o poder. Ela tinha esse poder do dinheiro, ela sempre usou esse poder do dinheiro para ameaçar a gente", contou uma das vítimas. A vítima ainda relatou que só teve coragem de colaborar com as investigações por acreditar que, desta vez, a ex-vereadora responderia pelos crimes dentro da cadeia. "A cidade é dela, ela é dona da cidade. Era né. Porque foram anos, tipo, não sei se de judiciário, se polícia, o que foi, mas foram anos de várias pessoas sabendo dos crimes, várias pessoas convivendo com os crimes e ninguém nunca fez absolutamente nada. A gente sabe que rolava um dinheirinho, mas não sabemos para quem", finalizou a vítima. Os supostos pagamentos de propina não foram alvo de investigação. Condenações na operação Libertas Durante as sete fases da Operação Libertas, Pâmela Volp foi denunciada em mais de dez processos. Até o momento, foi condenada em oito deles. As penas apuradas pela reportagem junto ao Ministério Público já somam 52 anos, 3 meses e 3 dias de prisão, além de multa e indenizações às vítimas. Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), alguns processos estão em segredo de justiça ou aguardam julgamento. O TJMG informou que Pâmela Volp, até o dia 31 de outubro, já havia cumprido 4 anos, 1 mês e 24 dias da pena. Ela continua presa no sistema prisional de Uberlândia. Roubo qualificado e extorsões A denúncia apontou que a organização criminosa comandava diversos pontos de prostituição em Uberlândia. As mulheres eram obrigadas a pagar diárias como forma de permissão para atuar nos pontos de prostituição. Quem não obedecia era ameaçada ou agredida. Por esse motivo, em março de 2018, Volp e duas comparsas agrediram violentamente uma travesti em um ponto de prostituição no Bairro Marta Helena. A vítima foi golpeada com barra de ferro na nuca e agredida com socos e chutes e teve o celular roubado. De acordo com o Gaeco, as agressões deixaram a vítima gravemente ferida. Pâmela foi inicialmente condenada a 10 anos de prisão. Após recurso da defesa, a pena foi reduzida para 5 anos e 4 meses de reclusão, além de 3 meses de detenção. Em dois episódios ocorridos em 2020, Pâmela Volp ameaçou mais uma vítima, desta vez no Bairro Osvaldo Rezende. No primeiro caso, exigiu que a vítima deixasse o local sob ameaça de agressão. No segundo, jogou o carro em direção à vítima e reafirmou as ameaças. A vítima abandonou o trabalho por meses após as ameaças. Pâmela foi reconhecida como autora e condenada a 4 anos e 8 meses de reclusão. Em novembro de 2021, outra vítima foi abordada em ponto de prostituição no Bairro Dona Zulmira. Armadas com revólver, faca e barra de ferro, Pâmela e mais duas comparsas ameaçaram a vítima de morte caso não pagasse uma “diária” de R$ 50 para trabalhar na região. A ex-vereadora teria se autoproclamado “dona da cidade” e afirmou que ninguém trabalharia [nos pontos de prostituição] sem pagar em Uberlândia. A vítima fugiu e denunciou o caso. Por esse crime, Pâmela foi condenada a 7 anos de reclusão. Garotas de programa eram torturadas e agredidas pela 'dona da cidade' O Gaeco também apurou que, na madrugada de 7 de novembro de 2021, Pâmela Volp agrediu uma garota de programa com chinelo e mangueira por ter chegado tarde do trabalho na rua. As agressões duraram cerca de 15 minutos. Depois, a vítima foi impedida de dormir, o que causou sofrimento físico e psicológico A mulher trans vivia sob controle rígido de Pâmela, que a usava como exemplo de submissão para outras travestis em seus alojamentos. A vítima só conseguiu sair do local após a prisão da agressora. Pâmela foi denunciada pelo crime de tortura e condenada a 2 anos e 3 meses de reclusão. Em outro caso, a vítima relatou ter sido agredida com golpes de canivete nos seios recém-operados. A travesti ainda foi sequestrada duas vezes, ameaçada de morte e forçada a fugir da cidade. Por esse crime de tortura, Pâmela Volp foi condenada a 5 anos e 3 meses de prisão. Rufianismo, organização criminosa e lavagem de dinheiro Pâmela também foi condenada por chefiar a organização criminosa e pelos crimes de rufianismo (exploração sexual) e lavagem de dinheiro. A organização com atuação interestadual, segundo o MPMG, estendeu as atividades criminosas em Santa Catarina. Consta na denúncia, que a chefe contava com a parceria de outras mulheres trans, para o gerenciamento da operação no Sul do país com o mesmo modelo de operação: cobrança de diárias e controle dos pontos de prostituição. Mesmo presa, a chefe do esquema continuava exercendo influência sobre a rede. Ainda conforme o MP, a estrutura era altamente lucrativa e explorava a vulnerabilidade das vítimas. Por esses crimes, Pâmela foi condenada no último mês a 14 anos, 6 meses e 28 dias de reclusão. Além disso, as rés foram condenadas a indenizar cada uma das vítimas em R$ 20 mil por danos morais. Ela também foi condenada por dano material e perdeu todos os bens. Apreensão de joias Em outro processo envolvendo lavagem de dinheiro, a ré foi condenada por manter um depósito de diversas joias e pedras preciosas, avaliado em mais de R$ 300 mil. De acordo com o MPMG, esses bens foram adquiridos com recursos obtidos direta ou indiretamente por meio de crimes como organização criminosa, sendo posteriormente convertidos em ativos de aparência lícita. As joias foram localizadas e apreendidas em Tupaciguara. A sentença em primeira instância ocorreu em junho deste ano, condenando a ex-vereadora a 4 anos e 6 meses de reclusão pelo crime em regime inicial aberto. Esquema de extorsão e violência no sistema prisional Ser presa não impediu que a ex-vereadora continuasse a exercer sua liderança. A Operação Libertas também investigou um esquema de extorsão e outros crimes praticados por Volp no sistema prisional de Uberlândia. Pâmela Volp, se tornou líder da ala LGBT+ da Penitenciária Professor João Pimenta da Veiga, ordenou que cinco detentos espancassem seu companheiro de cela, por supostamente ter furtado 17 cigarros dela. A vítima, sob efeito de remédios, foi brutalmente agredida com chutes, socos e pisões na cabeça e no peito. Na denúncia consta que a morte só não ocorreu por intervenção de uma testemunha. Após o crime, Pâmela deu cigarros a dois agressores para que assumissem a culpa. Por esse crime, ela foi condenada a 9 anos e 4 meses de prisão em regime fechado. 'Teste de orientação sexual' Por fim, Volp também foi denunciada pelo Gaeco por lesão corporal sofrida por outro preso na penitenciária. A detenta é acusada de criar 'teste de orientação sexual' dentro do pavilhão LGBT+. Segundo o MP, Pâmela Volp obrigava novos presos da ala a manterem relações sexuais com outros detentos. Um interno que se recusou teria sido espancado por outros dois presos a mando dela. A denúncia aponta que a vítima perdeu dentes e sofreu deformidade facial. Com a apuração dos crimes, ela foi transferida para o Presídio Professor Jacy de Assis, também em Uberlândia, onde permanece cumprindo pena. Segundo a Promotoria, o processo tramita no Fórum de Uberlândia e não houve julgamento. A ré também aguarda julgamento pelos crimes de associação criminosa e extorsão praticados no sistema prisional. O que diz a defesa Em nota enviada ao g1, a advogada Fabiane Martins informou que Pâmela Volp se mantém firme e dedicada na missão de reverter as acusações injustas que lhe foram atribuídas. Sobre a suposta 'compra de policiais' citada na reportagem, a defesa esclareceu que o Ministério Público se baseou em depoimentos de testemunhas do sistema prisional. No entanto, essas declarações carecem de provas e não sustentaram uma denúncia formal por corrupção ativa, demonstrando a inconsistência das acusações. Por fim, alegou que a cliente acredita ser alvo de perseguição transfóbica e que a atual defesa busca corrigir os equívocos da representação anterior e reverter a situação processual da cliente. Initial plugin text ASSISTA: 6ª fase da operação Libertas teve como alvo travestis e transexuais de Uberlândia Trabalho de travestis e transexuais é alvo da 6ª fase da Operação Libertas em Uberlândia VÍDEOS: veja tudo sobre o Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas

FONTE: https://g1.globo.com/mg/triangulo-mineiro/noticia/2025/11/08/presa-ha-4-anos-ex-vereadora-de-uberlandia-pamela-volp-ja-soma-mais-de-cinco-decadas-em-penas-por-exploracao-sexual-tortura-e-lavagem-de-dinheiro.ghtml


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